Nem tudo está perdido
Nos dias 19 a 22 de junho de 2014, na Paróquia de São Francisco de Assis,
em Caçador, em torno de 600 jovens agitaram o território das comunidades da
Catedral. Eles vieram das 10 dioceses de Santa Catarina. Chegaram tímidos,
constrangidos, receosos, tipicamente o jeito de ser do jovem. Quando não
conhece, desconfia, e quando desconfia se retrai. Com a acolhida, o carinho e a
ternura das famílias que os receberam, a juventude pôde vivenciar a mística do
acolhimento. O jeito simples de acolher transforma a timidez em alegria e afeto
familiar. Lágrimas rolaram na despedida. O coração foi tomado de um amor que o
mundo não sabe dar. Quando o jovem toma conhecimento que pode ser missionário,
seguindo o caminho da simplicidade, ele se envolve por completo, sai de si
mesmo e encontra o outro, longe ou perto de sua casa, entra no coração sedento
de amor na casa alheia.
Diz o Papa Francisco na sua exortação apostólica: “A alegria do Evangelho,
que enche a vida da comunidade dos discípulos, é uma alegria missionária.
Experimentam-na os setenta e dois discípulos, que voltam da missão cheios de
alegria (Lc 10,17). Vive-a Jesus, que exulta de alegria no Espírito Santo e
louva o Pai, porque a sua revelação chega aos pobres e aos pequeninos (cf. Lc
10,21). Sentem-na, cheios de admiração, os primeiros que se convertem em
Pentecostes, “pois, cada um ouvia... em sua própria língua” (At 2,6) a pregação
dos Apóstolos. Esta alegria é um sinal de que o Evangelho foi anunciado e está a
frutificar, tendo tem sempre a dinâmica do êxodo e do dom, de sair de si mesmo,
de caminhar e de semear sempre de novo, sempre mais além”(EG 21). E agora, em
torno de 600 jovens fizeram a experiência de sair, de semear alegria, encontrar
acolhida, cear junto, dialogar, ouvir e partilhar a vida. Quando as portas se
abrem desaparece o receio, o desconhecido. O receio se transforma com as
palavras “entrem”, “a casa é vossa”, “sintam-se em casa”. Esta é a primeira e
fascinante experiência da Igreja em saída, o aconchego, entrar na casa do outro,
em terras estranhas. É mover sentimentos, despertar sensibilidade, aguçar o
olhar atento para detalhes. Gestos se convertem em bem estar e o Evangelho da
alegria aquece o coração e a missão acontece. Vidas se convertem e o encanto de
viver ressurge em cada lar.
Detalhes
Vieram para a 4ª Missão Jovem Regional, jovens de longa caminhada na
Pastoral da Juventude, jovens recém crismados, jovens animados e jovens
curiosos, mas todos se integraram e foram presença.
Os jovens podem ser missionários nos dias atuais. Oportunidades devem
ser dadas a eles. O clero precisa acreditar nos jovens e deixá-los evangelizar
do seu jeito. Basta apontar caminhos, pistas para que eles sigam. Que caminhem
com o ritmo deles, com o grito e o silêncio, a ginga, a dança, a criatividade,
sentido próprio deles, mas todos inculturados na alegria do Evangelho. Não
fiquemos trancados nos nossos movimentos e desejos pessoais, impedido que os
jovens saiam e evangelizem, os deixem missionar. Muitos jovens ainda vivem
atrelados aos desejos pessoais e intimistas, estes não participam e sufocam a
experiência missionária de tantos outros jovens. Eis a Igreja clericalista e
egoísta que tanto o Papa Francisco vem condenando. Precisamos anunciar Jesus
Cristo e não a nós mesmos.
Liberdade
A missão jovem provou que as várias experiências juvenis podem se unir e
fazer missões juntos. Os experientes puxando os novos, o sangue novo irradiando
alegria e beleza na missão. Cada um com seu jeito de ser, mas abrindo portas,
espaços para que os grupos diversos possam evangelizar e participar de um
mutirão missionário. Vi jovens entusiastas da PJ, do EJA, Pastoral Juvenil
Marista, da Renovação Carismática, do TLC e outros. É possível fazer uma missão
juntos, sem barreiras, mas felizes anunciando Jesus Cristo e não as vaidades de
grupos. É preciso superar as barreiras estruturais, prisioneiros da velha
estrutura que afugenta os jovens e dar-lhes espaço para que demonstrem o rosto
alegre por evangelizar, dando continuidade ao projeto da iniciativa cristã que
receberam na catequese. É hora de deixá-los extravasar e ir à missão. Assim
experimentam outras realidades, lugares, pessoas, cidades, famílias, e
descobrem que todos desejam ser felizes. E todos querem ser felizes e todos
buscam a felicidade.
Alegria
Ao terminar a missão, as lágrimas caíram porque atingiu o coração. A
saudade já é uma realidade. Um novo horizonte despertou na vida simples dos
simples e alegres jovens da 4ª missão em Caçador. Este é o caminho salutar que
desperta consciência, amadurece o senso crítico, alerta contra a violência,
adverte sobre os perigos que machucam a vida de tantas pessoas e da própria
natureza criada. Os sentimentos de justiça afloram e uma nova ordem social, eclesial
e humana nasce. A missão vislumbra o eco forte do grito contra o extermínio da
juventude. O desejo de viver e de se envolver com a bandeira sagrada da nova
geração equilibra a humanidade, devolvendo o sentido da vida, conforme diz
Cristo “Eu vim para que todos tenham vida e vida em plenitude”.
Gratidão
Obrigado aos jovens que vieram, que foram e que marcaram presença.
Emocionaram o pároco Pe. Lauro Kaluzny Filho, da paróquia São Francisco de
Assis e encantaram milhares de pessoas. O pouco que vocês fizeram na 4ª missão
é o muito que o mundo e muitas famílias precisavam receber. Vocês vieram,
receberam e deram. Vocês saíram de casa, e descobriram as casas com pessoas
sedentas de paz, de oração, de sorriso e de acolhida. As famílias recolheram o
seu sorriso, a sua simpatia, a sua alegria de anunciar que faz o mundo ser mais
feliz. Obrigado e Deus vos abençoe agora e sempre!
Dom Frei Severino
Clasen, OFM
Bispo de Caçador